Mudanças climáticas colocam em risco o saneamento básico no Brasil, revela estudo

 

O avanço das mudanças climáticas no Brasil representa uma ameaça crescente ao setor de saneamento básico, segundo o estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento”, realizado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a WayCarbon. O levantamento, divulgado recentemente, mapeia as regiões e estados mais vulneráveis aos impactos de eventos climáticos extremos, como tempestades, secas e ondas de calor, até 2050.

Impactos no abastecimento de água

Estados como Rio Grande do Sul (RS), Espírito Santo (ES) e Rio de Janeiro (RJ) aparecem como os mais vulneráveis no que diz respeito ao abastecimento de água. Nessas regiões, sistemas abastecidos por mananciais exclusivamente superficiais estão particularmente expostos ao acúmulo de sedimentos causado por chuvas intensas, o que prejudica a qualidade da água e dificulta o tratamento.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, 92% dos municípios apresentam risco muito alto de interrupção no abastecimento de água devido a tempestades máximas de um dia. Em maio de 2024, chuvas intensas no estado danificaram duas das seis estações de tratamento de água de Porto Alegre, levando à paralisação parcial do sistema.

O Espírito Santo e o Rio de Janeiro enfrentam desafios similares, mas associados a períodos de chuvas intensas em cinco dias, o que provoca maior carreamento de solo para os mananciais, tornando a água mais turva e difícil de tratar.

Riscos no sistema de esgoto

O estudo também alerta para os impactos no sistema de esgotamento sanitário, especialmente em estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde tempestades podem sobrecarregar redes de esgoto e causar transbordamentos. A falta de coleta e tratamento adequado intensifica a contaminação de águas superficiais, expondo a população a riscos de saúde como leptospirose, esquistossomose e diarreia.

Capitais como Florianópolis (SC), Belém (PA), Boa Vista (RR), Teresina (PI) e Vitória (ES) são apontadas como as mais vulneráveis à sobrecarga do sistema de esgoto devido à combinação de alta densidade populacional e baixos índices de cobertura de coleta.

Necessidade de mitigação

A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, destaca a importância de ações estruturantes para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Ela sugere medidas como a modernização das estações de tratamento de água, construção de estruturas mais robustas e planejamento de sistemas alternativos de abastecimento em áreas propensas a secas.

“Cada região precisa entender suas ameaças climáticas e desenvolver uma matriz de risco que inclua ações preventivas. Assim, quando eventos climáticos ocorrerem, os impactos diretos na população podem ser minimizados”, afirma Luana.

Metodologia do estudo

O levantamento utilizou modelos climáticos baseados no Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP6), referência no 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os dados incluem análises históricas e projeções climáticas para 2030 e 2050, aliados a informações das redes de saneamento nos estados e municípios brasileiros.

Conscientização e planejamento

O estudo reforça a urgência de investimentos em infraestrutura e políticas públicas para minimizar os efeitos das mudanças climáticas no saneamento básico, garantindo o acesso à água de qualidade como um direito humano fundamental.

Em nota, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) destacou que, após os danos causados pelas enchentes em 2024, isentou moradores afetados do pagamento de tarifas nos meses de maio e junho daquele ano, evidenciando a importância de respostas emergenciais eficazes frente aos desastres climáticos.

Com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, o alerta é claro: o Brasil precisa se preparar para proteger sua população e garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos.