Visto Revogado, Prestígio Restrito: Secretário de Saúde de Pernambuco no Vento Contrário dos EUA

O médico Mozart Júlio

Um episódio diplomático de impacto atingiu o médico Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde, servidor do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, vinculado à Universidade de Pernambuco. Sua revogação do visto americano simboliza mais do que um incidente individual: reflete uma tensão crescente entre Washington e autoridades brasileiras ligadas ao programa Mais Médicos.

A decisão americana incluiu, paralelamente, o ex-assessor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde, Alberto Kleiman. Ambos foram acusados de utilizarem a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) como intermediária para contratar médicos cubanos, supostamente contornando requisitos constitucionais do Brasil e desrespeitando sanções dos EUA contra Cuba. Essa medida pale em rede com críticas ao programa, que teve seu auge entre 2013 e 2018 e foi retomado recentemente com foco renovado em profissionais brasileiros.

Mozart Sales, com trajetória consolidada como médico legista, docente universitário e gestor em órgãos de saúde pública, manifestou indignação diante do ocorrido. Em suas declarações, classificou a medida como injusta e reafirmou a relevância do programa Mais Médicos para milhões de brasileiros que dependem desse atendimento. A reação ecoa um forte posicionamento em defesa da soberania nacional e dos pilares do SUS, reforçando que a sanção não abala a convicção de que o programa, essencial para regiões vulneráveis, continuará firme.

Para o governo federal, essa ação dos EUA representa mais um ataque à autonomia do Brasil na construção de suas políticas públicas. Líderes do Executivo enfatizam que saúde e soberania não são negociáveis, e que o legado da iniciativa — ampliado nos últimos dois anos com dobrando o número de profissionais — é alvo de uma disputa política e ideológica disfarçada de alegações legalistas.

O episódio ocorre em um contexto de atrito diplomático, no qual medidas unilaterais americanas têm repercussão para além da política externa, afetando pessoas que simbolizam a prática da cooperação em saúde. A revogação de vistos de pessoas envolvidas no programa, e mesmo de autoridades do Judiciário, tem levantado debates sobre o alcance e os limites da interação entre os países.

Enquanto isso, autoridades de saúde pública e especialistas em relações internacionais avaliam que esse episódio tende a endurecer ainda mais o olhar brasileiro sobre intervenções externas. A narrativa de que o Brasil permanece de pé em seus compromissos com a equidade e o acesso à saúde é reforçada, e a figura do secretário Mozart Sales assume conotação simbólica de resistência.